domingo, 23 de fevereiro de 2014

E agora, Sofia?




Cada pessoa que exerce a função materna e paterna para uma criança sabe da mão-de-obra que isso implica, dos gastos, da paciência que você (não acreditava ter que ter) teria, das noites sem dormir e das manhãs também (para aqueles que gostam de acordar tarde), do tempo dedicado à criança tanto para educar (aprender a se comportar corretamente, à tomar banho, escovar os dentes, comer sozinho, a organizar seus pertences, fazer cocô e xixi na privada, etc), cuidar (desde dar banho, escovar dentes, arrumar, limpar bumbum com cocô, fazer comida, dar comida, botar pra dormir, reorganizar a casa, etc; até o cuidado de escolher o que come, com o que se brinca, o que assiste na TV, as músicas que ouve, os livros que lê, sobre o que se conversa quando a criança está por perto) quanto para brincar (mil brincadeiras de faz-de-conta, ler e contar histórias, correr, dançar, cantar, lutar etc).

Em tudo e por tudo isso, nossas vidas mudam absurdamente!

Quando não há uma preocupação maior sobre como cuidar, educar, estimular (etc) o filho, então, as escolhas são sem muita reflexão e as coisas vão sendo levadas ao sabor da ocasião, mas quando há milhares de preocupações acerca do que “isso” ou “aquilo” pode interferir no desenvolvimento do seu filho, então tudo muda de figura.

A maioria dos pais e mães que se deixa levar ao sabor da ocasião não, por isso, deixa de sofrer suas questões acerca da paternidade da maternidade, nem que seja o quanto isso interferiu em suas vidas profissionais ou simplesmente enquanto homens e mulheres. Vejo isso no meu consultório, na rua, onde há mães e pais.

Mas, atualmente, há uma forte rede de mães que investem muito do seu tempo livre em ler, conversar, se inteirar sobre SER MÃE, e todos os aspectos que isso implica, em todas essas mudanças de vida, e também sobre o que é melhor para o desenvolvimento da criança.

E nessas calorosas conversas entre mães, ficam muito definidos os dois grandes grupos que se formam: o grupo das mães mais naturalistas e de uma filosofia de vida mais humanista de um lado; e do outro lado o grupo das mães que se autodenominam modernas e engajadas nas atualidades (sejam do consumo de produtos, seja em técnicas científicas). E sempre é um quebra-pau enorme, que às vezes, é frutífero, às vezes não.

Essas mães tão certas de seus saberes, não aceitam que ninguém conteste o que elas afirmam ser a ÚNICA verdade. Isso é uma coisa de mãe. Achar que é a única a saber o que é melhor para seu rebanho... Ledo engano. Às vezes, não sabem nada. Mas apesar de não saberem nada em alguns momentos, todas as decisões estão ali nas suas frentes, tendo que ser tomadas, seja com a parceria de uma pessoa que cumpra função de pai (o pai biológico, o avô, um tio, um novo namorado, etc), seja sozinha. E cada decisão tomada é uma responsabilidade a ser arcada daqui a pouco, num futuro próximo ou distante. Porque muita coisa muda quando nos tornamos mães e pais, mas esse rodar do grande moinho, com sua eterna cobrança de cada escolha que tomamos, isso permanece.

E não importa se você resolveu ser mãe aos 37 anos, depois que fez seu pós-doutorado, comprou sua casa própria e fez a volta ao mundo, ou se você foi mãe na adolescência, com um cara que conheceu na sua festa de calouros da faculdade e que não quis assumir sua paternidade, deixando para você o ônus de todas as escolhas dali em diante. Não importa, de qualquer jeito, o bicho SEMPRE pega!!! E não existe o mais fácil, o que existe é o DESEJO e algumas fantasias pra dar cor a esse desejo. E assim seguimos, cada um(a) pagando o preço pelo desejo de ser mãe, pai, do seu jeito, seja solteiro, fora da idade “ideal”, com ou sem grana, com ou sem o título, sabendo mais ou menos (exatamente o quê?), mas todos com a única certeza (essa sim, é certeza) de que TODAS as nossas escolhas têm um preço a se pagar por elas, e por isso, mãe e pai, por isso, vocês podem e devem ser os únicos a dar a palavra final sobre o que vai ser feito, pois seremos nós, pais que arcaremos com cada “centavo” de cada uma dessas decisões!

A decisão tomada, com suas mil razões, ou aquelas tomadas “levianamente”, ou aquelas tomadas simplesmente para agradar outra pessoa, todas serão cobradas. É preciso ter isso claro... Claríssimo! Pois essa é a única garantia que temos da vida.

E para tomar tais decisões, também é importante ter calma (mesmo sabendo que “a vida não para” – como diria Lenine) para a gente pensar melhor e tentar avaliar quais “preços” estão mais condizentes com a realidade de cada um.

Pensar melhor, às vezes, é entrar num site sobre maternidade e ver uma idéia, uma experiência de vida diferente da nossa, ou conversar com um profissional que possa esclarecer algumas coisas, ou ver uma amiga e trocar umas ideias... E para trocar ideias, é preciso saber ouvir, saber respeitar a opinião do outro e a própria opinião. Compreendendo que a verdade absoluta não existe, e “as verdades” (que são sempre múltiplas) estão sempre em constante transformação.

Na prática isso equivale a ouvir o outro sem exigir nem dele nem de si mesmo que dessa conversa apenas uma verdade prevaleça. Entendendo que cada decisão teve seu contexto, teve uma história de vida que deu cores a determinadas opções e as fizeram mais atrativas. É preciso compreender que são histórias de vidas sendo narradas, e que nunca elas poderiam ser iguais, então porque as escolhas também seriam?

Esta semana as blogueiras de maternidade estão se unindo e proporcionando, cada uma em seus blogs, espaços para reflexão acerca do que foi para si ser mãe...

E a marca que a maternidade me deixou foi exatamente esta, de que responsabilidade acerca da nossa existência tem que ser o parâmetro para todo diálogo, inclusive (principalmente) para consigo mesmo!


O que vocês acham, leitoras?

Um beijão enorme, Bellyssimas do meu coração!!!!

2 comentários:

  1. Sempre tive consciência de que cada escolha representa a renúncia de todas as outras opções. Seu texto me trouxe a complementação: cada escolha também tem seu preço. Entender esse princípio é o grande segredo para tomar decisões no meio de um mar de informações contraditórias e, como vc disse, em transformação. Parabéns!

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    1. Marusia, é isso mesmo, mas algo que alivia este pensamento de que escolher também é renunciar, é pensar que escolher é olhar para dentro e ver o que se deseja, pois assim, não importa quantas opções se tenha, o desejo nos dá firmeza para persistir naquilo que realmente queremos =D

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